- 90 dias

15 horas - Um pântano da tristeza... a imundície ao meu redor causa-se asco... é assim que me sinto em relação ao mundo. Hoje não é diferente de ontem... tampouco o será o amanhã... tudo tão medíocre, todos tão medícres... não há um ser que valha a pena... tanta energia gasta inutilmente.

Um coração sangrando... e quem tem algo a ver com isso?

- 91 dias

9 horas - Um muro de escuridão...

- 92 dias

19 horas - Ouço o batuque carnaval de qualquer lugar de onde estou... ouço os gritos (alegres?) do foliões...

Qual é a graça de pular até se arrebentar? De se vestir de mulher? De se vestir de homem? De se despir? De se pintar?... Serve pra esquecer a vergonha de ser o que se é?

Eu, pelo menos, não coloco máscaras... tá uma merda? Grito pro mundo ouvir... não fantasio a vida...

Quando tudo acabar vai voltar a mesma porra de sempre... o que um pulos de carnaval podem mudar? Dá pra pular a dor? Dá pra pular o desamor? Dá pra pular um dia da vida determinada a ser vivida? Dá pra pular no pescoço de quem inventou tudo isso?

Olho pela vidraça o mundo lá fora que se esfumaça... outra noite que chega... o que me espera o amanhã?

Sinto vontade de chorar um pouco, mas me dou conta de que me esqueci do caminho.

- 93 dias

18 horas - Acordo cedo... saio da cama fazendo um esforço sobrenatural. Abrir os olhos dói.

Já não consigo lembrar como é viver sem desespero, o coração apertado... como se a qualquer momento fosse se espatifar, como se o ar fosse faltar... tudo dentro de mim sufocar.

Gostava de dormir... agora me esforço pra me manter acordad@. Quero sonhar, parar de ter pesadelos... mas tenho medo de, depois do sonho, acordar e descobrir que tudo não passou de sonho.

Abro a janela, não chove faz mais de dez dias, o ar está seco, o sol queima... fico aqui a me perguntar: se o inferno é como dizem, quem vai conseguir aguentar? Quem vai conseguir suportar? Ninguém... todos morrerão... e não sobrará ninguém.

O inferno vazio é inferno? Sou todo inferno que você possa imaginar... quando isso vai acabar?

Um cheiro acre no ar... o sol se põe, mais uma vez.... uma nostalgia forte toma conta de mim... de repente, me dou conta de algo que gostaria jamais ter me dado conta: não sei o que vim fazer neste mundo?

- 94 dias

16 horas - E o mundo vai se decompondo devagarinho diante dos meus olhos... o mundo está cansado de ser mundo. Está muito cheio, se sente pesado, maltratado... há tantas formigas que seu peso se assemelha ao peso total de seres humanos. E elas vão cavando minúsculos túneis, construindo seus frágeis formigueiros, esburacando o mundo...

e o mundo vai se desfacelando... você sente o cheiro de podridão?

O mundo é um lugar muito ruim de morar...

- 95 dias

12 horas - Um sonho... só queria um sonho... chega de pesadelos.

- 96 dias

13 horas - O pior ainda está por vir... por que é sempre assim? Por que a dor não tem fim? Uma chuva fina molha a cidade, a umidade toma conta de tudo. O céu num cinza quase preto reflete o estado de ânimo que toma conta de mim.

É, é outro dia, mais um dia ou menos um dia... daqui pra frente será assim: tanto faz... sol ou chuva... tudo tanto faz.

Você já parou pra pensar na inutilidade de tudo? Tudo o que vive morre... tudo pra morrer tem de primeiro viver... vive, e vive, e vive... e depois morre... um por um... todos. Inútil, não é?